Andanças e novas oportunidades de aprendizagem!
A foto acima, que uso para ilustrar esse texto é da ilha do Jutuba, uma das comunidades que fazem parte da região insular de Belém. No dia da foto a equipe da Casa Escola da Pesca (CEPE) estava fazendo busca ativa para realização de matrículas dos estudantes em nossa unidade. Durante esse dia e no período em que visitamos outras ilhas, tivemos a oportunidade de matricular, alguns ex-alunos e ex-alunas que não finalizaram o ensino médio, pois foi negada a esses jovens a oportunidade de ter essa etapa de seus estudos concluida; até hoje não entendo os motivos que levam um grupo de pessoas apoiar um projeto de sociedade excludente, mas foi isso o que aconteceu e infelizmente esses meninos e meninas foram obrigados a esperar.
Infelizmente a pandemia nos impossibilitou de continuar nossas andanças, mas sei que daqui a pouco vamos retornar e pra mim é uma questão de honra trazer, novamente, para a CEPE todos os alunos que foram impedidos de prosseguir. Posso dizer que foram duas semanas de muito aprendizado, andando pelos rios nós vislumbramos uma imensidão de possibilidades para nossa escola e percebemos o quão rico é o projeto que nortea os trabalhos da CEPE, criada há quase 13 anos. São muitas vidas, histórias, trajetórias que nos perpassam.
Em um ano de tantos desafios, medos, perdas irreparáveis e angústia, poder refletir sobre qual educação podemos ofertar aos nossos estudantes é um privilégio e aqui nessa plataforma estou aprendendo um pouco mais, não sei onde vou chegar, mas a experiência tem sido enriquecedora. Me arrisco a dizer que nunca, enquanto professora, tive a oportunidade de vivenciar um processo formativo que possibilitasse essa ampliação de ideias e discussão com meus pares, tem sido dias mais leves, mesmo em meio ao caos em que nosso país se encontra.
Um dos conceitos que tenho aprendido nesse processo é sobre o capitalismo de vigilância, o que me faz lembrar o livro 1984 de George Orwell, em que a sociedade é vigiada o tempo inteiro, e o "grande irmão" é o olho que tudo vê; até os pensamentos são controlados, é uma sociedade distópica que perdeu a liberdade de amar, pensar, errar, viver! Talvez um livro, como esse, não seja o retrato real da sociedade em que vivemos, e não é. Mas é tão assustador ler e saber que é possível acontecer. Quem sabe a gente possa se libertar, mudando nosso comportamento e nossas escolhas? Escolhas que irão influenciar na construção, inclusive, do projeto de ensino que nós queremos para nossa escola, para a CEPE, para as unidades da nossa fundação e para os estudantes que vivem o rio em todas as suas nuances.
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Comentários
#1
Rosangela, gracias por seu comprometimento como educadora e pela potente reflexão, com certeza nossas escolhas antes de serem técnicas/pedagógicas são políticas, e isso determina o nosso fazer. Que mais contribuições venham para que nós saiamos desse ambiente informacional espesso e difuso que nós coloca em posição de alienação técnica em relação as ferramentas que nos são presenteadas "gratuitamente" e que em nome da nossa comodidade e as vezes até acomodação aceitamos sem pensar, refletir e criticar.
Quando a gente fala nas nossas rodas de conversa sobre a questão do Colonialismo de Dados, percebo que as mesmas estratégias que foram utilizadas na primeira onda colonial, que teve origem com a invasão desse pedaço de terra que desde então passou a se chamar de América, uma vez que as pessoas que aqui habitavam tinham as riquezas naturais e conhecimentos sobre o lugar trocados por quinquilharias como espelhos, pedaços de pano, pentes e bijouterias e tinham.
Hoje de certa forma também nesse novo Colonialismo de dados nossos dados, que hoje são o principal insumo no modo de produção capitalista atual, são rapinados através dos milhares de aplicativos e softwares gratuitos que capturam nossa atenção e de maneira parasitária assumem o controle e modulam nossos gostos, pensamentos e opiniões.
Estou muito alegre por estar fazendo parte de um grupo com capacidade de refletir, planejar e agir, juntos podemos mudar essa realidade e usar as tecnologias a nosso favor e não sermos relegados ao papel de meros usuários dependentes das plataformas de captura de dados dos países dominantes.
#2
Gratidão, Gama!! Sigamos!