Pergunta aberta sobre as figuras da ausência
Queridos colegas, deixo aqui umas perguntas para vocês. É a continuação de uma conversa que teve hoje a tarde com Eduardo. Se vocês tem um pouco de tempo e ganas, gostaria que respondessem. Faço a pergunta no Corais para que as respostas sejam visiveis por todos e fiquem como registro de nosso trabalho e de nossas reflexões. Podem simplesmente comentar este post para que todas as respostas fiquem juntas. Depois pedirei autorização a alguns de vocês para publicar com seus nomes parte de seus depoimentos no artigo que li para vocês. Quando esses depoimentos tenham sido incluidos enviarei para todos o artigo que ficará como uma memória da proposta. Além disso é uma forma de continuar nossa reflexão e nossa busca compartilhada. Obrigado pelas contribuições. Abraço. Martin
Quais os efeitos que o trabalho com as figuras da ausência produziu em você? Com que figura/s se sente mais familiarizado? que foi "incorporado" por você em sua busca e de que maneira? Quais são os "lugares" da ausência no seu trabalho como ator?
- Faça o Login para adicionar Comentários
- 1214 acessos
- Imprimir
Comentários
#1
1- Bom primeiramente foi limitador não conseguia ultrapassar os clichês por isso mesmo se tornou um desafio ir além das meras figuras e encontrar um agente provocador no inconsciente que fizesse que a minha interpretação sensação das figuras se tornassem orgânicas e que me dessem vontade de sair do lugar comum, encontrei esse agente na raiva que senti por estar com um repertório limitado tanto imagetico como fisico vocal com relação às figuras propostas.
2- Janela
3- as quatro figuras janela sombra buraco e reflexo foram as que ficaram mais fortes, algumas foram incorporadas conscientemente e outras foram surgindo espontaneamente, o telefone surgiu do desespero de não ter participado da aula em que ele foi colocado então pra não "sambar" apelei para o clichê e dai surgiu o "Alô" para ninguem, entrei na roda sem saber de nada e os outros elementos acabaram se incorporando espontaneamente, decidi não racionalizar muito o processo de construção até pelo carater de ser um experimento e deixar que as coisas fluissem de uma forma como já falei mais natural sem tantos sub-textos congelativos meio viver sem tempos mortos e chegar a ter acesso a expressões menos lineares. De qualquer forma creio que o tempo foi curto para a quantidade e possibilidades que tudo que estava em jogo na cena se manifestasse mais profundamente.
4- Vários ! alguns só descubro quando entro em algum processo dai os vazios se manifestam e então tenho que correr atrás em busca de preenchimento. Não saberia classificar objetivamente esses lugares mas penso que talvez eles se manifestem fisicamente e vocalmente também além claro de tudo que não pude ver ouvir, tocar etc... não sei !
#2
Lembro-me bem de um buraco onde eu quis me enfiar e ficar lá dentro, escutando um tango eterno, mas havia uma janela nesse quarto, que me vez ouvir vozes, que me perturbaram por dias, e de repente, já não está, o sentimento, a dor, que deu lugar a espera de um filho, filho experimental, único e duo, um filho brasoportenho, que vem dentro da força das manifestações, das catástrofes radioativas no renascimento da fênix Velha, e da jovem da Vila. E eu ainda subjetiva qualidadedefeito, característica da mulher sentimento, uma vez mais escrevo nesse imenso mar e declaro meu imenso carinho por um argentino, que não é Maradona, nem Franciso e sim Domeq como um conhaque que gosto de tomar nos dias frios. Agradeço por tudo que compartilhamos na Livre, que também é vida..
#3
Qual o efeito do trabalho com as figuras da ausência?
- Inicialmente percebi a necessidade de evitar o senso comum, o clichê de cada figura. Senti dificuldade em representar um sentimento abstrato (a ausência) com uma ação ou imagem concreta utilizando uma ou mais figuras. As figuras muitas vezes dificultavam essa possibilidade de criação, mas essa dificuldade era o verdadeiro exercício. Não era uma limitação, mas o direcionamento da criação. Ao longo do processo, percebi também que precisava trazer elementos de fora para alimentar a criatividade na roda. Isso ficou mais evidente na criação do “texto da idade”, quando me inspirei na música “Poema”, de Cazuza e Frejat. Essa inspiração foi totalmente identificação (do meu sentimento com a música).
Com qual figura sente-se mais familiarizado?
- O “lugar” (que fica vazio ou some) consigo visualizar mais facilmente. Esta figura me leva para uma ausência “externa”, ao invés de se referir apenas à ausência “interna” (falta de alguém ou alguma coisa mais pessoal).
Que foi "incorporado" por você em sua busca e de que maneira?
- Acho que o entendimento dessas imagens como um repertório de pesquisa (criação) está bem claro agora. Consigo identificá-las e utilizá-las mais facilmente. Mas o processo de assimilação disso foi se instalando aos poucos, ao longo dos nossos encontros. Acho que se continuássemos com o processo, a criatividade seria mais facilmente acessada e cenas muito interessantes seriam criadas.
Quais são os "lugares" da ausência no seu trabalho como ator?
- O lugar da ausência aparece em não permitir que apenas a intuição se manifeste na criação. A necessidade do entendimento racional da ação muitas vezes bloqueia o que seria naturalmente belo apenas por existir.
#4
Qual o efeito do trabalho com as figuras da ausência?
As figuras serviram como base para a construção das improvisações e das cenas. Ter as figuras como fio condutor evitou que eu me fechasse nos significados particulares que a ausência tinha em mim e que eu buscasse outras formas de expressá-la. Algumas vezes a figura tornou o trabalho mais difícil, trabalhoso, já que tínhamos que criar em cima de algo que até então era apenas uma palavra. Algumas figuras me ajudaram a partir para a cena, outras não. Mas acredito que esta dificuldade seria resolvida como mais tempo de trabalho, mais insistência e mais abertura da minha parte.
Com qual figura sente-se mais familiarizado?
A janela. Além de me transmitir uma imagem bonita, tranquila, essa figura traz a possibilidade de comunicação com um espaço além. Isso me instiga.
Que foi "incorporado" por você em sua busca e de que maneira?
Conhecer a figura como forma de ponto de partida para a criação foi muito enriquecedor e é algo que fica no meu repertório como ator. O trabalho me abriu para essa e outras possibilidades de criação que vão além do que já é familiar ao ator.
Quais são os "lugares" da ausência no seu trabalho como ator?
Percebi com o trabalho que ausência pode não somente estar em cena, como nos tornar coadjuvantes. Agora vejo a ausência como algo a ser explorado, ressaltado, interpretado ou pelo menos testado pelo ator.