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Escrever uma introdução à economia solidária

Escrever uma introdução à economia solidária

Estamos precisando de uma conexão entre economia criativa e a moedas sociais digitais no capítulo Trabalho colaborativo e economia solidária. Acredito que alguns parágrafos explicando porque existe esse tipo de economia, como é diferente da economia capitalista tradicional e inclusive refletindo sobre as possibilidades de desenvolvimento no contexto da economia criativa.

Responsáveis: 
fred
Responsáveis: 
Luana Vilutis

Comentários

#1

Fred, escrevi algumas ideias soltas sobre esta parte, estava em viagem e não pude ajudar antes. Se ajudar, fica ai minha colaboração.

A Economia Criativa surge desde o momento que se busca uma forma mais justa de fazer fluir as ações e ideias dos indivíduos. Desde o momento que as formas sociais de se organizar que predominam não são mais capazes de responder aos anseios daquilo que o ser humano valoriza.

A diferença primordial entre a economia tradicional e a Economia Criativa está no foco do valor. Na economia tradicional, a valorização é individual, restritiva, acumulativa e de retenção, onde os valores tendem a deixar de fluir, e os números são mais importantes que o resultado final, os objetivos se invertem, e o resultado do trabalho de um indivíduo deixa de ser valorizado em prol da escassez ou suposta necessidade social. Há especulação com bens e necessidades básicas, especulação que gera riqueza para os mais espertos. Chega-se ao ponto que a frase de Ayn Rand é a única explicação para o sintoma social:

""Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada."

Talvez, neste caso, a sociedade não esteja condenada, mas esteja precisando se auto-gerir, buscar no indivíduo comum soluções para as instituições e modelos sociais que não funcionam mais.

É preciso se afastar, quando se fala em economia criativa, da ideia de socialismo e qualquer outra deste regime que também fracassou. Talvez a ideia que melhor se aproxime do conceito seja a de um regime comunitário, com formas de auto-gestão, sem a necessidade da interferência de instituições, mas que podem dialogar como um todo. Sem perder a individualidade, ferramentas que permitam que todos manifestem e participem das decisões. É claro que os ideias políticos teóricos buscam isto, mas os modelos, na prática, estão falidos. O indivíduo comum, transformado em "cidadão", passa a manifestar sua opinião através do voto e do seu poder de compra. O voto já não é mais uma forma de manifestar decisões de forma eficiente. O poder de compra restringe. A sociedade vai a falência. Os espertos vão ao trono. Os valores se perdem. No final, nem os espertos vivem mais em algo que lhes cause satisfação.

Buscar novas ideias para organizar a sociedade não significa necessariamente destruir tudo e reconstruir um regime novo. Processos realizados desta forma já comprovaram na história que somente substituiram-se os tiranos e os regimes autoritários, os sistemas macro dominantes não são capazes de responder aos anseios do imediatismo humano. No final das contas, o que melhor deu resultados são as pequenas ações locais de longo prazo.

Pais e professores educando filhos. Sociedades se unindo para buscar soluções microregionais conjuntas. Famílias unidas. Grupos minoritários buscando seus direitos. União de indivíduos por interesse e afinidades parecidas, buscando reorganizar através de ações limitadas, mas de efetivo resultado e satisfação. Envolvimento através da micro ação. Toda forma de trabalho voluntário que se une e organiza, não importando localidade, número de pessoas ou formalização.

Estas pequenas ações vão se unindo e necessitam de uma forma organizada de se propagar. É neste momento que surgem as moedas sociais digitais. Formas novas de contabilizar o valor do trabalho de cada indivíduo, mais justas e adequadas aos objetivos de valorização de uma comunidade.

Um exemplo simples, quando uma localidade assume a manutenção de uma praça abandonada, ela precisa buscar mecanismos de recuperação do local através do trabalho voluntário, que é muito mais sobre engajamento social, pois com o engajamento social surge naturalmente a força do trabalho unido e tudo acontece. Depois disso, o prazer de desfrutar de uma praça passa a ser muito maior, porque todos sabem o valor de manter um local público em pról de todos. Surgem as mais diversas interações sociais e satisfações públicas. E há responsabilidade social de todos. O esforço coletivo gera tal valor, que o prazer de usufruir da praça se torna pequeno diante da força das multidões unidas pelo trabalho colaborativo.

Mas é necessário uma forma de medir e valorar o trabalho individual para que não haja injustiça na proporção. Ou não. Se fôssemos medir o valor do trabalho de cada indivíduo na recuperação da praça, podemos dizer que talvez a expontaneidade se perca. Mas é verdade que se a economia criativa cresce, necessita de formas de se organizar, para que os indivíduos e os coletivos possam trocar a força do seu trabalho por outros bens em outras comunidades e talvez até dinheiro, por que não?

A questão principal talvez se fundamente no requisito de transformar a moeda em apenas uma ferramenta da satisfação coletiva e individual. Quando indivíduos se unem, criam uma força valorável, a moeda é apenas uma ferramenta de medição, e não o objetivo final. O consumo da praça aqui não é o objetivo final, porque senão a praça seria dizimada. O que importa é estabelecer os dois lados da roda: manutenção e uso. E medir o que cada um pode dar para somar no coletivo e assim manter o social, e surge a aplicação, talvez não tão utópica, de um termo muito utilizado hoje em dia: sustentabilidade. 

Consumir é dar um fim. Sustentar é manter. E assim vamos descobrindo os significados práticos de palavras tão simples que nos rodeiam mas não respondem mais ao nossos anseios e precisam ser substituídas por outras, tão aclamadas, mas não tão praticadas.

Não se trata de vontade política, vontade social ou vontade pública. Se trata de vontade individual prática que se reune e forma uma coletividade criativa. A união de todas as iniciativas individuais, daquela vontade de mudar o mundo, para criar uma coletividade que cria, que muda e transforma.

Quando existe esta iniciativa individual prática que se une em coletividade criativa, surge a necessidade das ferramentas, como a moeda social. E não o contrário. Poderíamos dizer aqui, que entre o ovo e a galinha, sim, há quem nasceu primeiro. Primeiro nasce a vontade PRÁTICA do indivíduo que se une e forma coletividade criativa. E somente depois surge a ferramenta que é a moeda social. E não o contrário, pois no capitalismo que se perdeu, acha-se que o valor do ouro surgiu primeiro, mas não, primeiro era o valor de desfrutar egoistamente de algo que os outros não tem, e depois surgiu a ferramenta de troca, o dinheiro. Talvez o dinheiro não seja tão ruim, visto como ferramenta, o problema jaz na origem: a forma egoista de desfrutar algo que outro não tem...

Assim como o dinheiro não é ruim, a moeda social é boa e é uma forma de organizar a força do trabalho coletivo.

A palavra anteriormente grafada, PRÁTICA, fala sobre a AÇÃO de colaborar: colaborAÇÃO. É difícil dar o primeiro passo, mas não há como criar uma moeda social sem que antes exista as bases da ação para impulsionar os indivíduos. Os primeiros que iniciam a ação de criar algo diferente passam pelo mais básico das ideias e depois, com a moeda já criada, proporciona-se que a ação de novos individuos é promovida pela ferramenta. Ou seja, um sistema precisa incentivar seus conceitos básicos.

Uma moeda social precisa valorizar a ação dos indivíduos e a sua união. Não pode ser apenas a emulação de dinheiro. Ela precisa promover os anseios que outras ferramentas não o fazem mais. Assim, valorizar o coletivo, valorizar a prática, incentivar o engajamento social, a mudança local, a solução para pequenos problemas coletivos, de forma livre e com a união do trabalho de todos.

É algo difícil de ser realizado, mas envolve aprendizado contínuo e observação, tentativa e erro: ação, começar a fazer.

#2

Julio, a sua contribuição é muito boa! Eu fiz o seguinte, coloquei o começo do seu texto na introdução geral do livro, pois você consegue sintetizar basicamente tudo o que está sendo discutido ao longo do livro. A segunda parte sobre moedas sociais eu coloquei no capítulo de trabalho colaborativo e economia solidária, porém, ainda acho que está faltando explicar melhor o conceito de economia solidária nesse capítulo.